sexta-feira, 22 de abril de 2011

CAPOEIRAGEM, CANDOMBLÉ E POESIA

I

NAS RODAS DA MACUMBA, ATÉ AGORA ESTÁ SÓ,
CRIOULO BOM NO TOCAR, CRIOULO BOM NO CANTAR.
CORAÇÃO DE MULHER TU SABES AMARRAR,
CRIOULO DE FATO E LEI, NOS MISTÉRIOS DO EBÓ.

(PEGI-GAN – ALOISIO RESENDE)


TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA


II
VISTOSA SE LHE ENFUNA A AMPLA SAIA DE CHITA
NOS QUEBROS DA CORÉIA. E O SEU BALANGANDÃ
DE ZAZI E DE OMOLU, DE OXÓSSI E DE NANAN,
DE UMA DEUSA NAGÔ DEU-LHE A FORMA ESQUISITA.

(CAMDOMBE – ALOISIO RESENDE)


TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA

  III
VIVENDO DENTRO DE SI, DE MODOS QUASE ESQUIVOS,
SE VAI AO PAGODÔ, NAS NOITADAS DE FESTA,
A CURVATURA PEDE E DANÇA ERGUIDA E LESTA,
A VELHA ORIGINAL DE OLHOS PEQUENOS VIVOS.

(MÃE-FILHA – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA

IV

NEGRAS, PESADAS MÃOS, BATEM COM FORÇA
OS RIJOS COIROS PARA QUE SE EXPANDA
UMA PRETA QUE CAI NA SARABANDA
E O CORPO, EM ROSCAS, RÁPIDA, CONTORÇA.

(TERREIRO – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA


  V

FALA DE SI COM GARBO E COM CERTO ENTUSIASMO
DESCREVE FATOS TAIS QUE O PRÓPRIO CÉU DUVIDA,
FATOS QUE DE SE OUVIR ATÉ SE FICA PASMO,
QUE A GLÓRIA SÃO, TALVEZ, MAIOR DE SUA VIDA.

(MANOEL DE XANGÔ – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA


  VI

E O SOM DOS ATABAQUES, NADA PARCOS.
DENTRO DA NOITE, RÍSPIDO, RETUMBA.
É A DECANTADA, A CÉLEBRE MACUMBA,
NOS PORÕES VINDA DOS NEGREIROS BARCOS.

(TERREIRO – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA


VII

E A TENTAR, CADA QUAL, MAIS BONITA E LOUÇÃ,
VAI SEGUINDO DENGOSA EM DEMANDA DA FONTE,
DE BAILADOS ENCHENDO A PLÁCIDA MANHÃ,
POIS NÃO TARDA QUE O SOL, ENTRE OS CERROS, DESPONTE.

(MAIANGA – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA


 VIII

ANIMADO, COMEÇA, ENFIM, O SAMBA,
À VOLTA, TODA ALI, DA TAL FOGUEIRA.
E A MACUMBA SE FORMA, ENTÃO, LIGEIRA,
QUE A NOITE VELHA, AO LONGE, JÁ DESCAMBA.

(NO BAMBÉ – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA


IX

VAI DANÇAR IEMANJÁ, PROTETORA BONITA
DESTE RICO RINCÃO DE TERRA BRASILEIRA.
NO CENTRO DO TERREIRO, ONDE O SAMBA SE AGITA,
EM NEGRAS ONDAS SOLTA A BASTA CABELEIRA.

(IEMANJÁ – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA
 

X

QUANDO NA INTIMIDADE, ALI, NO SEU TERREIRO,
DEIXA COMO DE PARTE OS RECATOS E AS MANHAS
DEIXA, PARA SE VER O OUSADO MACUMBEIRO,
COM TREJEITOS EXPONDO AS MÚLTIPLAS FAÇANHAS.

(MANOEL DE XANGÔ – ALOISIO RESENDE)

TÉCNICA MISTA/TELA
(50X50)cm, 2011
GABRIEL FERREIRA

4 comentários:

  1. Quando penso que não, vem você e me surpreende outra vez hehe. Incrível este trabalho. É carvão? Embora ausente na palavra direta, acompanho-o sempre e torço sempre por seu sucesso merecido.De sua amiga paulista!

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  2. Parece-me que biografia moderna considera o homem em todos os seus aspectos buscando fixar a humanidade do seu personagem.

    Buscando o homem com as virtudes e os defeitos inerentes a raça humana, mas, no fundo no fundo, em termo do que interessa realmente à poesia, estes aspectos estão mais para Big Brother Brasil do que verdadeira ciência e literatura.

    Olhem o caso de um Augusto dos Anjos, por exemplo: nem um poeta, em nossas Letras, foi mais vitimado pelos estereótipos do que ele – estereótipos esses advindos tanto dos leitores como da crítica dita especializada, mas que nada mais é do que uma propagadora de tolos ideais etnocêntricos e multiculturalistas que pouco ou quase nada acrescentam à poesia e à sua verdade estética.

    O poeta paraibano, por mais que fosse, à sua maneira, um revolucionário, dono de um artesanato poético sem precedente em nossa história, quase sempre foi focalizado como um tuberculoso sofredor e depressivo; um anti-herói errante em sua própria angústia e dor, representado, como diria Antônio Houaiss, por versos herméticos, onde, por vezes, se escondem cisma extremamente patológicas, psicologia doentia, et coetera e tal.

    Antônio Houaiss, também, nos lembra que, “em conseqüência dos usos simbólicos feitos por Augusto dos Anjos, de um material não raro de procedência científica, dos usos analógicos e corretos para fins de enlace estético e emocional, desde sempre se manifestou entre nós de interpretar a poesia de Augusto dos Anjos como uma poesia exótica, cuja chave – como a de Cruz e Souza – poderia estar na sistemática de certas doutrinas orientais místicas”... Já pensou?!

    Mas muito longe de ser um poeta conhecido e aclamado, como Augusto dos Anjos o é, Aloísio Resende não está livre de interpretações semelhantes e mesmo a sua exígua produção literária torna-se vítima de uma “visão multicultural” que leva muito mais em conta os processos pessoais do autor como se esses valessem muito mais do que a sua produção poética ou como se estes fossem a poesia em si, não levando nem mesmo em consideração aquela máxima de Fernando Pessoa de que “o poeta é um fingidor”.

    Silvério Duque

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  3. No filme, "Amadeus", de Milos Foreman, Salieri, interpretado por F. Murray Abraham, leva o Mozart, vivido por Tom Hulce, extremamente doente, para a sua casa, e o ilude para que continue a compor sua Missa Réquiem, em Ré menor, deitado naquele que seria seu leito de morte; Mozart o dita para que Salieri o transcreva à partitura (o que de fato teria acontecido, embora não com Salieri e sim com dois de seus pupilos, Joseph Eybler e Franz Xaver Süssmayr), por toda a madrugada.

    Mozart indica que baixos, em Lá, cantem o tema do Confutatis, junto com os tenores, na subdominante, acompanhados, na mesma linha melódica, por fagotes e trombones para que as vozes sejam multiplicadas; em sotto voce, seguem as vozes femininas... etc.

    Compasso por compasso observamos a construção deste trecho que, somando suas partes, criam um dos temas mais belos e ferozes de nossa música. Separados são sons sem muita conexão ou apoio, mas, juntos, formam uma cadeia de melodias de mais alto padrão já escrito.

    Com a obra de Gabriel Ferreira, como a de todo grande artista, não vejo diferença. Elementos diversos se agrupam em diferentes aspectos para construir ir algo realmente belo, único, repleto de cor, verdade e significado, indo muito além daquilo que lhe serviu de mote, no caso, a poesia de Aloísio Resende, para que a vida seja mais... É para isso que a Arte serve.

    Parabéns, velho amiigo.

    Um abraço,


    Silvério Duque

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  4. Salve! Sou capoeira, jongueiro, fotógrafo e desenhista. Fantástico seus trabalhos. Arte! Parabéns!

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