sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mais um Salão de Artes

Mais uma vez ingresso em um Salão de Artes. Muito simples, contudo, significativo, ainda mais quando se trata dum artista que persegue, literalmente, linhas interessantes para o seu currículo. Há cinco anos pleteio Editais da Fundação Cultural do Estado da Bahia quando se trata dos Salões Regionais de Artes Visuais e, em todas as vezes que fiz inscrição nunca fiquei de fora, sendo que, antes mesmo da primeira tentativa foi esnobado e levado a convencer de que não teria o mínimo talento para as artes plásticas ou área correlata, contudo, a argumentação (blablaliana) foi péssima, mesmo vinda de um "baCaninha Dias" das artes visuais do Estado Bahia (risos). Enfim, voltando ao que interessa: minha primeira exposição em Salão se deveu à poesia do Patrice de Moraes, pois, dela, pude extrair os elementos visuais para compor o Diário de Valquíria Lima. Por ter gostado da idéia de pleitear Editais de tal natureza, eis que se publica o segundo Edital, este, no ano de 2007; fiz inscrição de duas obras, as quais foram selecionadas e, para a minha surpresa, uma delas foi premiada! Não apenas isso: recebi o Prêmio Juarez Paraíso, Sala Especial no Salão do MAM do ano subsequente e publicação da obra em catálogo de artistas premiados pela FUNCEB! Maravilhoso para um artista novo que, jamais havia recebido sequer uma menção honrosa, entretanto, já havia participado da XVIII Bienal do Recôncavo e ralado muito pelas vias e vielas dessa vida. Para não deixar o costumeiro hábito, desde 2005 venho ingressando nos Salões da Fundação Cultural, dentre os quais me renderam "viagens" e viagens interessantes, pois, a permissibilidade da arte contemporânea abre-me à libertinagem e o fluir conceitual, que ainda não faz parte de alguns apreciadores que combinam cores de telas com os seus sofás!

O Salão que participarei em 2010 será aqui, na minha terra adotiva, em Feira de Santana, donde tenho, nas entranhas, muitos investimentos e enfrentamentos. Enfrentamentos voltados para espaços d'arte que não estão abertos para o público e sim para a poeira, sob o argumento, dos dirigentes daqueles, de que na cidade, arte não é para finais de semana; com isso grande parte dos amigos que gostam do meu trabalho o vêem neste blog ou vão à minha casa quando não podem ir às vernissages (é engraçado, mas é real).

A obra deste salão assinada pelo artista que vos escreve é intitulada de SOBRE A MESA DE MARIA AMÉLIA (deixei um pouco as Valquírias rs) e há toda uma argumentação que atesta a concepção da mesma. Trata-se de uma instalação, cujos elementos são voltados para o erotismo em conformidade com alguns trechos bíblicos. Chamo de conformidade o que a minha cabeça pode estabelecer numa anatomia comparada com imagem e texto; afinal, minha temática voltada para o erotismo tem essas nuances, muita gente critica e outras detestam, contudo, me rende seleções em espaços interessantes e, até mesmo mais notoriedade (o fato é curioso, mesmo!).

Eis, abaixo, um dos elementos da instalação: 

SOBRE A MESA DE MARIA AMÉLIA
TÉCNICA: BETUME DA JUDÉIA, VERNIZES E CARVÃO SOBRE DESCANSOS PARA PRATOS NA MESA (JOGO AMERICANO) - 05 DE 06
ANO: 2010

MEMORIAL DESCRITIVO DA OBRA: Questões relacionadas à sexualidade de mulheres donas de casa são veladas ao ponto de serem relegadas à condição de inaptidão “carnal”. E, quando tais questões são levadas à mesa na forma de discussão, que se propõe a forma conceitual desta obra, desnuda-se um universo cheio de pudores e restrições. “Redesenhar” a sexualidade em ambiente doméstico, através de imagem, está no intuito desta obra, a qual tem como suporte um acessório do quotidiano de várias cozinhas comuns: o “jogo americano” que se põe sobre a mesa e sob os pratos. Como estes “jogos” são decorados de imagens (frutas, legumes, flores e bons pratos preparados) peculiares ao ambiente e, são sinônimos de cuidado, para com a mesa posta, por mulheres que, de tão prendadas (neste contexto) são chamadas Amélias, a transfiguração azeita a discussão, seduz os olhos e transfere os sentidos da “comida” para outras formas de prazer. A Obra faz a conjunção de fatores que se reprimem para emergir com mais provocação, a saber: sexualidade e religiosidade. Como a religiosidade é determinante no processo de construção do comportamento de submissão ao “macho”, ser uma Maria e ser uma Amélia (ao mesmo tempo), ser a senhora do lar e dos afazeres sexuais põe a personagem desta Instalação em plena desobediência aos seus valores culturais e refém dos seus instintos (mesmo em pensamento). Gerar este paradoxo na mente da personagem incorre em “pecado” de consumir a própria carne quando que, o “ser mulher” põe-se em devaneios, até mesmo à mesa (e/ou sobre ela), doando o próprio corpo como alimento para desejos latentes.

Um comentário:

  1. Parabens artista, por mais esta. Me orgulho de ser seu parceiro de muitas "vadiagens"!
    Bel Pires

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