domingo, 18 de julho de 2010

O fantasma da tarde longa

"O FANTASMA DA TARDE LONGA"
ACRÍLICO SOBRE TELA
2005
(ACERVO SILVÉRIO DUQUE)


O fantasma da tarde longa

à memória de Alice Carneiro da Silva, minha avó.

Mergulhaste teus olhos na tarde fria
que, como um manto fresco de febre e agonia,

moldurava teu rosto queimado e leve;
e eras branca como uma alma de neve

ou como tua própria alma exposta no vento
quando teus olhos imitavam o lento...

(eles mesmos, teus olhos na fria tarde)
imitavam o azul profundo que arde

dentro daquela tarde que em mim não morre;
imitavam o lento azul que escorre

do infinito mais longo e menos dito
e menos maldito quando estou contido

na minha lembrança tua; esfacelada
no passado triste da presença alada;

presença que voa de dentro de mim como uma
sombra luminosa: o fantasma de uma

tarde longa que toda noite renasce.

Silvério Duque


- Senti-me com plenos poderes para poder fazer a ilustração desse poema do Silvério Duque, mesmo porque conheci bem de perto a Sra Alice Carneiro da Silva, a Dona Licinha - sua avó - como também tive a oportunidade de receber algumas broncas daquela que possuía a autoridade de dar sermão nos amigos dos netos. Como sou amigo do Duque desde a infância vivenciei muito dos métodos de criar "minino" da Dona Licinha, sempre muito rigorosa e de uma imensa generosidade.

Passar pela casa do Silvério quase sempre à tarde para uma leitura ou uma brincadeira com os "Robôs Guardiães da Terra" fez-me assimilar a imagem da sua avó sentada na varanda e apoiada em seu cajado. Os cabelos lisos, brancos e bem penteados guardavam lembranças de várias gerações que lhe beijaram a mão solicitando uma benção, pelo costume de como se criavam os "mininos"; fossem "de quem fossem" deveriam beijar a mão direita dos mais velhos (digo isso lá de Tanquinho, do resto do mundo não sei, pois lá, era como se fosse o mundo inteiro!).

A pintura acima é o que mais me marcou nestas lembranças longas e vespertinas. Com ela materializo uma boa passagem da minha infância, emociono a mãe do poeta e contagio de alegria o coração do mesmo com estes lampejos pictóricos bem oportunos. 

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